Na última segunda-feira (1), a Espaçolaser anunciou a conclusão de seu IPO. A rede de franquias de depilação estreou na B3 precificando sua ação a R$ 17,90 por papel, o que resultou em uma captação de R$ 2,64 bilhões. Um marco histórico: é a primeira vez que uma empresa de serviços de beleza abre capital no Brasil.
Mais do que um acontecimento isolado, isso mostra uma crescente tendência de investidores brasileiros à procura de ativos fora dos setores tradicionais. Para Alexandre Pierantoni, diretor-executivo da Duff & Phelps no Brasil e especialista em mercado de fusões e aquisições, essa perspectiva segue um cenário financeiro que já é típico no exterior. “Temos uma multiplicação de setores presentes na bolsa de valores. Cada vez mais nichados”, destaca.
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Segundo o especialista, “é a perspectiva futura que guia investimentos em empresas que estão abrindo capital”. Em um período ainda de crise por conta da pandemia do novo coronavírus, essa visão de mercado se mostra cada vez mais concreta. Pierantoni revela que, mesmo após um 2020 caótico, o ano fechou com recordes de IPOs. A Espaçolaser, por exemplo, vive um momento de ganhos e conquistas na B3 mesmo tendo passado por períodos de paralisações e fluxo zero de clientes em suas lojas.
Até setembro de 2020, último período com dados divulgados, a rede havia faturado R$ 952 milhões, mas com prejuízo líquido de cerca de R$ 65 milhões. Acima do normal em um período de crise, as perdas pouco importaram para o processo no mercado financeiro. “Um IPO sempre está olhando perspectivas futuras. A Espaçolaser tem um case que se provou de sucesso, principalmente quando se pensa na retomada da economia”, explica o especialista.
Ainda em ascensão no Brasil, o setor de depilação a laser é extremamente atrativo quando se observa os mercados do exterior, onde o procedimento chega a corresponder a 50% do mercado de depilação. No prospecto apresentado pela Espaçolaser, a rede revela que 69 milhões de pessoas no Brasil são adeptas a alguma forma de depilação. Apesar disso, apenas 4,9% da população brasileira se interessa pelo laser. É um cenário de expansão observado com interesse pelos investidores.
Para José Carlos Semenzato, presidente da holding SMZTO, sócia da Espaçolaser, a governança também faz toda a diferença nesse jogo de atratividade. Durante a pandemia, o empresário assumiu o Conselho de Crise da rede de depilação, o que fez com que acompanhasse de perto toda a gestão. “O IPO é um certificado de que você está se comprometendo com todas as características que determinam uma boa governança. O time de gestão precisa estar muito alinhado”, destaca.
Nesse sentido, Semenzato conta que um dos diferenciais foi a gestão minuciosa para manter os consumidores por perto. “Por conta da crise, alguns setores explodiram em inadimplência. A primeira coisa que surge na cabeça do cliente na hora de uma crise é o pânico. Nessa hora, muitos cancelam e desistem de produtos que haviam comprado. Nós tivemos uma gestão muito cuidadosa para manter essa inadimplência em patamares muito baixos em relação ao mercado.”
Como estratégia para alcançar esse resultado, o sócio-fundador da rede, Paulo Iasz, revela que em nenhum momento, mesmo no pior período da pandemia, eles desaqueceram o time. “Parar tudo poderia desmotivar nossas equipes. Nós fizemos um batalhão e colocamos todos os funcionários para conversar com nossos clientes, passando credibilidade e segurança. Além disso, tínhamos vídeo-conferências diárias com diversos setores da empresa”. Com a tática, foi possível manter funcionários e consumidores otimistas sobre a retomada.
“Tudo isso é possível quando você tem uma empresa de alta credibilidade e com muita confiança do consumidor”, destaca Semenzato. “A gente conseguiu fazer 40% do normal em vendas, em um momento de lojas fechadas”. Além disso, os executivos se orgulham por não terem passado por demissões em massa e pela volta precoce do fluxo normal de clientes, ainda em outubro.
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“O setor de estética é o último a perceber momentos de crise e o primeiro a retomar as atividades”, diz Iasz. “O que acontece é que nesses períodos você abre mão de muita coisa. Com isso, vem o desejo de se cuidar e elevar a autoestima. Isso ajuda a suportar a dificuldade.” Observando de perto o mercado financeiro, Pierantoni concorda com a afirmação. “O setor de beleza tem uma resiliência bastante forte. Como todos os departamentos, foi afetado pela pandemia, mas se recupera rapidamente.”